Crítica | O Melhor Amigo
Novo filme de Allan Deberton é musical errático com protagonista inexpressivo
“Nem eu me conheço tão bem, como você vai saber?”
O questionamento atravessado que Lucas dispara para o então namorado em determinado momento de “O Melhor Amigo” sintetiza de forma quase metalinguística o principal problema do novo filme de Allan Deberton: o protagonista é inexpressivo, sem camadas, de modo que o roteiro não consegue fazer você se importar com os “dramas” da personagem. Afinal, ele está “perdido” e, portanto, não se conhece tão bem assim.
É algo que costumo apontar como um problema em filmes que só funcionam se o público se “encantar” pelo (a) protagonista. “Apaixonada” e “Baby” são dois exemplos recentes que também fracassam nesse aspecto, mas são melhores resolvidos do que “O Melhor Amigo”, comédia romântica que chega aos cinemas nesta quinta-feira (13/03).
O protagonista é Lucas (Vinicius Teixeira), um arquiteto que aparenta estar enjoado do atual namorado, Martin (Léo Bahia), que não tem nenhum problema em demonstrar seus sentimentos e fazer declarações de amor. Para não ter de lidar com a situação, Lucas viaja para a cidade praiana de Canoa Quebrada (CE), onde reencontra Felipe (Gabriel Fuentes), uma antiga paixão da faculdade.
E a partir daí começa a jornada de Lucas para se “reencontrar”. Nada é propriamente verbalizado pelo protagonista, de modo que não é possível saber a origem de sua “crise”. Ele só está meio de saco cheio e, agora, irritado por Felipe não perceber seu interesse romântico.
Desenvolver o background das personagens para que compreendamos seus conflitos não é algo obrigatório ou que precise ser feito de modo expositivo. O ótimo “Pacarrete” (2019), também dirigido por Allan Deberton, pouco explica o passado da bailarina; sabemos um ou outro detalhe sobre sua vida de professora em Fortaleza e só. O presente dela fala por si e sintetiza tudo que a audiência precisa saber.
Não é o caso de “O Melhor Amigo”. As ações que acompanhamos ao longo do filme não servem para compreendermos as decisões ou objetivos de Lucas, tampouco para nos importarmos com ele. Ele não precisava ter um desenvolvimento complexo, começar o filme de jeito “A” e terminar de jeito “C”. A questão é que nada tem peso, nada realmente importa.
Inevitavelmente o filme chega a conclusão de que, às vezes, quando não se tem nada é que a vida começa de verdade. Libertador e vazio ao mesmo tempo.
As poucas sequências musicais do longa não carregam carisma algum, tanto em termos de melodia quanto coreografia. É um musical errático: por vezes parece ter vergonha de executar os números, enquanto em outros momentos leva ao extremo a tese de que filmes musicais se passam inteiramente na cabeça das personagens.
Nem Gretchen salva, ainda que sua participação (como ela mesma) seja uma das poucas coisas divertidas do filme.
Nota: 2 de 5.
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